Na Ásia, mercados reagem à decisão de Pequim, anunciada na noite de sexta-feira, de tarifar os EUA ‘olho por olho’. Dólar bate R$ 5,90
As Bolsas da Ásia e da Europa desabaram nesta segunda-feira devido ao temor de uma guerra comercial que provoque uma recessão em larga escala, desencadeada pelas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos contra seus parceiros comerciais. Hong Kong teve queda de 13,22%, no pior resultado em uma sessão desde 1997, durante a crise financeira asiática.
A Bolsa de Tóquio despencou 7,8% e chegou a ter um circuit breaker, quando a negociação das ações é interrompida temporariamente devido a fortes perdas. Seul perdeu 5,6% e os mercados de Shenzhen e Xangai despencaram 9,66% e 7,34%, respectivamente.
As Bolsas chinesas não abriram na sexta-feira por causa de um feriado local e os demais pregões asiáticos já estavam fechados quando Pequim anunciou, no fim do dia, que iria retaliar os EUA no melhor estilo “olho por olho”, aplicando a partir do dia 10 de abril uma tarifa de 34% sobre todos os produtos americanos.
A decisão do governo chinês confirmou os piores temores de analistas financeiros de que as medidas de Trump iriam desencadear uma guerra comercial.
No Brasil, o dólar abriu em forte alta nesta segunda-feira. A moeda chegou a bater R$ 5,90 pouco tempo após a abertura. A Bolsa ainda está fechada.
Na Europa, os principais índices abriram em queda livre, seguindo a tendência dos mercados asiáticos. Por volta das 8h30, reduziram um pouco as perdas, mas ainda assim tem forte queda:
- Frankfurt: – 4,13% (a Bolsa chegou a cair mais de 10% durante alguns minutos)
- Paris: – 4,19%
- Londres: – 4%
- Madri: – 4,48%
O presidente Donald Trump desencadeou uma tempestade nos mercados na semana passada com o anúncio de uma série de tarifas sobre países de todo o mundo, incluindo seus principais parceiros comerciais, como China e União Europeia.
Trump acusa estes países de “saquear” Washington e, em consequência, decidiu impor uma tarifa universal de 10% a todos os produtos importados pelos Estados Unidos. A medida entrou em vigor no sábado.
A partir de quarta-feira (9) devem entrar em vigor tarifas adicionais para os principais parceiros comerciais de Washington, incluindo a União Europeia (20%) e China (34%). Os produtos chineses já tinham sido alvo de uma taxa de 20% então, agora, pagarão nada menos do que 54%.
Na sexta-feira, após o fechamento dos mercados asiáticos, Pequim anunciou, além de uma tarifa universal de 34% para todos os produtos americanos, controles de exportação para sete minerais raros, incluindo o gadolínio, que é utilizado em ressonâncias magnéticas, e o ítrio, utilizado em produtos eletrônicos.
O vice-ministro do Comércio, Ling Ji, afirmou durante uma reunião no domingo com representantes de empresas dos Estados Unidos que as tarifas chinesas “protegem firmemente os direitos e interesses legítimos das empresas, incluindo as americanas”.
As contramedidas também procuram “recolocar os Estados Unidos no caminho certo do sistema comercial multilateral”, insistiu aos participantes, que incluíam representantes da Tesla, GE Healthcare e Medtronic.
As esperanças de que Trump reconsidere sua política acabaram no domingo, quando ele afirmou que não chegará a um acordo a menos que, primeiro, sejam resolvidos os déficits comerciais.
Cenário de recessão prolongada nos EUA
Nos mercados asiáticos, todos os setores foram afetados, das empresas de tecnologia até os automóveis, passando pelos bancos, cassinos ou empresas de energia. Entre os principais perdedores estão as grandes empresas de tecnologia chinesas como Alibaba, que perdeu mais de 17%, e sua rival JD.com (menos 14%).
— Poderíamos ver muito rapidamente uma recessão nos Estados Unidos e poderia durar aproximadamente um ano, bastante prolongada — aponta Steve Cochrane, economista-chefe para Ásia e Pacífico da Moody’s Analytics.
Além disso, a preocupação com uma queda brutal na demanda fez o petróleo registrar queda de mais de 3% nesta segunda-feira. O cobre, um componente vital para armazenamento de energia, veículos elétricos, painéis solares e turbinas eólicas, ampliou as perdas.
Diante da incerteza sobre qual rumo a Casa Branca vai de fato tomar nos próximos dias, os contratos futuros dos principais índices da bolsa de Nova York caíam com força no pré-mercado nesta segunda-feira:
- Dow Jones: – 1,71%
- S&P: – 1,87%
- Nasdaq: -2,16%
— Até agora, a equipe de Trump não está recuando (…) Está claro que Washington está utilizando as dificuldades do mercado como alavanca para negociar, e não como um sinal que os incentive a mudar de rumo — disse Stephen Innes, da SPI Asset Management.
Foto: Eric PIERMONT / AFP